segunda-feira, 19 de março de 2012

PEQUENA FLOR



A gratidão chegou singela
quieta muda murcha
Mas bastou
bastou água fresca e luz do luar
para seu viço surgir
olhos brilhar
pétalas abrir
muitos colocariam a culpa na ciência
ela não.
Em seu peito a certeza de que o amor da criança contagiara aquela púrpura
Não há motivo para buscarmos respostas na lógica
razão concreta
para que?
para quem?
Seu peito tem sede de poesia
e dos motivos mais abstratos para amar
da fé na subjetividade do amor
e não da frieza racional
Aqui, ela sou eu
e a gratidão chegou em forma de flor
das mãos de uma pequena
Mas o que disse não se resume a esta história
Ali pode ser você, pode ser uma palavra
pode ser o quer que seja
desde que seja
e que seja amor

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Reminiscências

Reminiscências

Não era de hoje que aqueles objetos estagnados no tempo e confinados naquelas prateleiras a incomodavam. Prataria, porcelana, cristais e recordações dividiam espaço com outros sem valor algum e com a poeira que se instalou durante essa década.

Dez anos se passaram desde que aquela senhora de olhos azuis e pele fininha, cheirando à violetas, deixou de servir seus bolos de nozes e ameixas nos pratos de limoge, (ainda que o cheiro do doce o tivesse impregnado), de abrir o baú que esconde o velho faqueiro de prata; de guardar as notas do supermercado e os cartões de boas festas das primas do rio nas caixinhas e réchaud de porcelana. Dez anos...

É intrigante tentar descobrir o que fizera aquela curiosidade de menina em mexer nos bibelôs da vovó, adormecer por tanto tempo. Luto, talvez. Respeito. Quem sabe a adolescência que despertara novos interesses.Não se sabe.

Contudo, foi naquela tarde fria do mês de julho que, empolgada com a restauração total da velha casa, ela decidira finalmente abrir a cristaleira. Instaurou-se então o ritual, mexer naquelas coisas antigas e remexer em outras já esquecidas era algo que ultrapassava as paredes das simples ações quotidianas. Energia pura que seria renovada, ou não. Mas sem dúvida algo singular.

Portas abertas. O cheiro do mofo e dos bolos de nozes com ameixas imediatamente sopraram-lhe a face. Lembranças, cheiros, sons e sensações emergiram. Um turbilhão de memórias nem sempre tangíveis, racionais, muitas vezes nebulosas, enigmáticas, e fragmentadas.

Ela aguardara tanto aquele instante que o saboreou cuidadosamente. Cada pedaço, cada contorno dourado, cada textura, cada som de cristal a tilintar. Tudo. A organização foi feita por partes, permeada de delicadeza e de apreço. Mas chegara o momento de encaminhar cada item que a garota julgou inapropriado permanecer na estimada cristaleira. O que fazer com tantas quinquilharias, intrigou-se. Miudezas sem qualquer valor sentimental ou financeiro, mas que, por algum motivo, recusou-se a jogar no lixo. Ela queria ofertar um olhar mais zeloso. Foi então que aquela caixinha azul atiçou-lhe. A princípio lembrou-se das caixas de gravatas ou de lenços, daqueles que o tio ganhava todos os anos no natal. Em um olhar mais perspicaz revelaram-se letras: "ESTAMPAS DE LUTO". Emocionada, já imaginara o que encontraria ao abrir a caixinha.

A avó, a Tia e uma senhora desconhecida. Todas homenageadas com carinho. As lembranças continuavam indo e vindo, truncadas, porém vivas. Ainda assim, nada que fizera-lhe derramar lágrimas ou deixar-se abater. Nada, exceto as palavras escritas pelo tio irreverente àquele que partira.

"-Eu brincava com o "soldadinho da Toddy com você.

-Eu abria pacotinhos de figurinhas comprados na quitandinha com você.

-Eu estava do teu lado quando teu Pai partiu.

-Eu vi tua mãe e tua Irmã partirem.

-Eu vi você ir.

-Aquele mortadela "gelada e arisco que todos conhecem:

Eu desconheço

Eu conheço a ti, vá com Deus!!!

Gugu

Mas eu não, murmurou para si mesma. Não teria expressão melhor para aquele momento. Um calor invadiu-lhe a face, os olhos marejaram no mesmo instante, a garganta e o peito unidos em um único nó. Tanto o tempo como o corpo estagnaram-se. Não havia o que fazer. O abraço que deixara de apertar, a palavra engolida, o carinho contido, a relação que não estreitara e todas as necessidades nascidas naquele momento imediatamente revelaram-se inacessíveis. Não havia o que fazer.

Arisco, julgou a menina ser o adjetivo que melhor definia aquele tio Mortadela, apelido carinhosamente recebido dos amigos. Era Boêmio, do mato, gostava de pedras, apesar do coração frouxo que, em vão, pretendia disfarçar. Era bonito, em todos os aspectos. Beleza esta que uma vida de desilusões pouco a pouco consumiu. E ele nada fez para que a dispersão das suas angústias cessasse. Preferiu refugiar-se dentro de si, junto aos amigos, e aos prazeres efêmeros.

A menina assistiu a tudo. Nada pode para despertar-lhe alegrias ou motivações. Mesmo desejando agir a timidez a conteve sempre. Não havia caminhos abertos a ela. Agora lhe restava apenas lembranças inventadas, momentos imaginados, vínculos sonhados e a certeza de que seriam inesquecíveis. Demonstrações de afeto, que poderiam ter enchido aquele frágil coração de calor fraternal. Poderiam...

Restou-lhe somente o frágil futuro do pretérito. A saudade foi então guardada, junto à prataria, à porcelana, aos cristais e às recordações contidas na cristaleira.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Meu abismo coração

Eu tenho um grande coração
Tão grande que nele mora um abismo
Um abismo que vive apertado
Um abismo profundo e escuro
Que abriga minhas tristezas, meus medos, minha agonia
Mas não é só isso que existe
Não são apenas as minhas tristezas que se vê
São as tristezas do mundo
Não sei por que, mas tem dias que me sinto quebrada
Sinto meu coração gelado, mas não gelado por não sentir amor, mas talvez por sentir demais
Amar demais é sofrer demais
Sofremos com a dor de quem amamos
Quem ama o mundo sofre a dor do mundo
Muitas vezes as lágrimas caem, em muitas outras já estão secas de tanto cair
Tem dias que a vontade de gritar é imensa
Em outros o meu medo a silencia
...

terça-feira, 3 de março de 2009

Minha estrada

Me deparo com símbolos diversas vezes
repetidos
mas não entendo
Deixo passar mas....
O que significam? Por que se repetem?
Dou voltas, círculos e mais círculos...Não percebo que retorno ao mesmo lugar
De repente uma flor
no caminho
uma sombra
pequeeeena
mas é sombra!
Então paro pra descansar [e pensar]
e enfim, olho pra trás
e enfim, vejo que na verdade
A sombra era luz
Uma luz que me faz ver que
NADA foi caminhado
Fico confusa
Até então a certeza de estar no caminho certo era crescente
Haviam vendas em meus olhos então?

Estava no caminho errado

Lembro-me de seu destino
E lembro que não é o que buscava
E lembro também que é justamente o que eu não desejava
Que diabos faço aqui então?
Não
Não é diabo, é Deus
É Deus que nos guia por caminhos tortuosos
Porém certos
Certos que mais parecem incertos
São atalhos
Estradas que precisamos cruzar
Esbarrando em flores e espinhos
Pra enfim encontrar a tão deseja morada

Portanto,
Permita-se experimentar diversos caminhos
Mas não se esqueça que no final apenas um poderá ser seguido
Permita-se ao erro
Mas não insista em seguir um caminho cujo destino não é qual se deseja chegar
Permita-se a mudança
Mas não se sinta fraco por desejar voltar atrás por perceber que essa não lhe encaixa

Siga
Apenas sigo
Por hora carrego duas certezas
A primeira é que uma estrada só vale a pena se seu destino for o esperado
A segunda, e mais importante, é que Deus sempre nos guia por caminhos certos, mesmo que a princípio não aparente,
E mesmo que este não seja o de seu destino final
Mas acredite
Ele sim, sempre sabe o que faz
Você está no caminho certo...
pra este momento
...mesmo que não pareça


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Mais do que nunca, hoje quero ir em busca do MEU caminho
Ser guiada pelos meus intintos, meus talentos
Encontrar jardins floridos que inspirem os meus propósitos
Por tempos tive vendas em meus olhos
Mas as flores de diversos jardins me ajudaram a retira-lás
E dessas flores
Pra sempre em meu peito irei guardar o perfume
Obrigada

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Coceira na cabeça

Calma! Não é piolho

São as minhocas

Atrapalhadas

Inseguras

Querem tudo e não querem nada

Nada...

"eu não sou nada"

Isso tem duplo sentido, só não sei em qual me encaixo

Não tem um terceiro?

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Where is the LOVE???

Tanta coisa que se vê
Tanta coisa que se escuta
É tanta barbaridade
Que eu não me conformo e nem quero conformar
Queria apenas uma esperança
Um sinal que me diga
Que ainda exista amor no coração das crianças

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Caixinha da infância

Que difícil é crescer
Difícil olhar e ver
olhar e ver tudo o que já passou
Tudo o que mudou
que mudou e vai mudar
que passou e não vai voltar...

Sorrisos, abraços, queridos, espaços
ocupados
na saudade que invade
de repente
uma música
uma foto
um verso
o universo
O universo de lembranças que ficaram na infância
querida
esquecida
adormecida
Que ressurge com um beijo
e no estalo desse beijo todo o filme é passado
e recordado
e chorado
e abraçado
e apertado...

de volta,
novamente,
Pra caixinha de lembranças que ficaram da infância


Laila Gama