quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Caixinha da infância

Que difícil é crescer
Difícil olhar e ver
olhar e ver tudo o que já passou
Tudo o que mudou
que mudou e vai mudar
que passou e não vai voltar...

Sorrisos, abraços, queridos, espaços
ocupados
na saudade que invade
de repente
uma música
uma foto
um verso
o universo
O universo de lembranças que ficaram na infância
querida
esquecida
adormecida
Que ressurge com um beijo
e no estalo desse beijo todo o filme é passado
e recordado
e chorado
e abraçado
e apertado...

de volta,
novamente,
Pra caixinha de lembranças que ficaram da infância


Laila Gama

Nossos caminhos

Com quantos caminhos se faz uma estrada?
Com quantos amigos se faz uma vida?
Com quantos caminhos se encontra um amigo?
Com quantos amigos se perde o caminho?

Caminho...

Caminhos
Caminho que se seguiu junto e um dia se separa
como se formando um "Vê"
de verdade
de saudade
mas Vê não é de saudade!
"Ésse" é de saudade
Saudade tortuosa
como o caminho que se segue, sozinho...
ou não
...
Quem sabe um dia
o meu e o seu caminho
possam se encontrar
e matar um pouquinho da saudade que ficou
e deixar um pouquinho
do meu coração no seu
do seu coração no meu
Mas pra depois se cortar em dois
E seguir novamente
mas que de repente
o feijão sem o arroz


Laila Gama

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Apenas a primeira fábula


Este texto é o resultado de uma atividade orientada pelo professor João D'Olyveira, na aula de Literatura dramática e texto teatral.
Com base num exercício de "blablação" feito em sala de aula, o professor pediu aos alunos que cada um escrevesse a fábula representada, sem que essa fosse mostrada aos colegas para então ser lida na aula seguinte para todos.

Em uma luminosa manhã de primavera Ferradura, um pangaré muito brincalhão; Justine, a gata vaidosa e mimada, e Sofia, uma porquinha doce e cativante; ambos habitantes da fazenda Raio de Sol, conversavam próximo ao chiqueiro de Sofia.
- Vocês já repararam como as flores estão lindas e cheirosas este ano? Diz Sofia, encantada.
- Aaatchim! espirra Justine. Vi sim! Alias, não vi, senti. É só a primavera chegar que logo começo a espirrar! E meus pêlos então!? Vão ficando ralos, por pouco não fiquei despelada ano passado...
- Ora miau! diz Ferradura, com um sorriso no rosto. Mas ocê é muito dondoca memô hein! Recramando da primavera ! Ela é tão generosa pra nóis! Não faz muito frio, nem muito calor; deixa tudo cheroso e ainda faz umas belezura de frôr pro zóio da gente enxerga ! E além do mais... Aaai!
Ferradura ao sentir uma picada nas costas esbraveja com Justine.
-Credo Justine! Eu tava só brincando com ocê, não precisa me espetar!
A gatinha assustada tenta se explicar, mas ao mesmo tempo sente-se injustiçada pelo amigo que a acusou sem motivos e iniciam uma discussão. Sofia tenta apartar a briga, mas não tem sucesso. Os dois mal escutam o que a porquinha tem a dizer.
-AAiii!!! Grita Justine, virando-se para a porquinha ao sentir uma picada.
-Sofia! Agora você vai defender o Ferradura me espetando também é!? acusa a gata. Você sabe muito bem que tenho alergia e você também viu que não fui eu que...
-Aiii! Grita Sofia, também ao sentir uma picada.
Nesse instante todos se espantam ao perceber que nenhum dos três poderiam ter espetado Sofia, afinal estavam se olhando. Então, no silêncio do espanto, ouve-se um “zum zum zum”.
Era Be, uma abelhinha muito atrapalhada que vivia arrumando confusões por onde voava. E ao ser descoberta a abelhinha fica sem graça e tenta se explicar. Porém os ânimos estavam exaltados e ignorando tudo que foi dito por Be os três começam a persegui-la, fulos da vida.
Dona Matilda, uma borboleta muito sabia e bondosa que observara tudo de longe, sentiu-se com pena de Be e foi tentar ajudar a pobre abelhinha. A beleza de Matilda era tanta que, ao se aproximar da confusão, batendo suas asas freneticamente, todos pararam para admira-la. Dona borboleta então, muito astuta aproveitou-se do silêncio para apaziguar a briga, e para isso não se fez necessário o uso de uma palavra sequer, pois seu coração era tão puro que inspirava amor por simples olhar. E assim fez, os quatro corações amoleceram e Be pode se explicar calmamente.
A coitadinha tinha se esquecido das aulas de flores proibidas, e acabou se enfastiando com o néctar de uma Papoula, uma flor encantadora, mas que possui efeitos soníferos. O que deixou a abelhinha, que já era atrapalhada, tontinha, tontinha. E por isso acabou espetando sem querer os três amigos.
Depois de se explicar a abelhinha foi pedir desculpas aos três.
Sofia, foi a primeira, recuou-se um pouquinho com medo de levar outra ferroada, mas logo se convenceu e desculpou Be.
Justine a mais desconfiada de todos também recuou, disse que até podia desculpá-la mas que isso não deveria mais acontecer e “blá blá blá”... começo a tagarelar.
Dona borboleta a olhou recriminando sua atitude, afinal, a abelhinha já tinha se explicado e estava arrependida pela confusão que causara. Não haveria mais necessidade de sermão.
Meio que de contragosto a gata desculpa a atrapalhada.
Ferradura olhou para as duas amigas e ao receber um sinal de aprovação de ambas, não pensou mais vezes e foi logo desculpando a abelhinha com um sorriso de mostrar todos os dentes.
Dona Matilda, então satisfeita com o final feliz se despede apenas com um sorriso. Voa longe para alegrar outros olhos com seu amor.
Be se da conta que esta atrasada para o jantar e se despede dos novos amigos. Que por sua vez se entreolham, e transbordando o amor que a borboleta deixara, simplesmente se abraçam, e se desculpam com um olhar, sem que seja necessário dizer uma só palavra.


Laila Gama